Entrevista a Filipe Henriques

Entrevista a Filipe Henriques

Filipe Henriques é o coordenador da equipa de Oftalmologia do Hospital da Misericórdia da Mealhada já há quase uma década. . Nesta conversa mais intimista com o nosso Diretor vai desvendar algumas facetas mais desconhecidas das vivências e reflexões de um Oftalmologista.

 

  • Antes de mais, fale-me um pouco da sua experiência no HMM

 

FH – Tem sido uma aventura sempre em crescendo. Lembro-me que quando comecei a trabalhar no HMM, ainda não tínhamos acordo com a ARS para ver doentes referenciados pelo médico de família através de credencial. Também não havia acordo com a ADSE, por exemplo. Desde então, a atividade assistencial na área da Oftalmologia tem vindo a consolidar-se de tal forma que de um dia de consultas semanal passámos a consultas todos os dias da semana. A equipa de Oftalmologistas foi sendo ampliada com elementos de grande mais-valia técnica e científica, de acordo com o aumento da procura. Em conformidade com esta tendência, a direção tem vindo a investir na Oftalmologia, nomeadamente na aquisição de aparelhos Laser, e de meios complementares de diagnóstico, o que tem vindo a permitir um leque de opções quase completo no que se refere ao tratamento dos doentes oftalmológicos.

 

 

  •  Que particularidades distintivas encontra no HMM?

FH – Desde o início desta já longa jornada, senti-me recebido com grande carinho. Não posso deixar de salientar a excelente relação de trabalho e cumplicidade que se estabeleceu entre mim e o Dr Aloisio, o Diretor Clínico do HMM. Aos poucos, essa relação de cumplicidade foi-se estendendo aos outros elementos da Direção, equipa de enfermagem e pessoal administrativo. Se posso resumir a característica distintiva do HMM numa palavra, essa palavra tem que ser “famlíla”. Talvez por eu ser um pouco extrovertido e gostar de interagir com todas as pessoas com quem trabalho, acabo por me sentir em casa. E penso que os médicos que trabalham no HMM, na sua generalidade, sentem o mesmo. Esse clima só pode beneficiar os doentes. Um profissional é tanto mais competente quanto mais estiver satisfeito no seu local de trabalho.

 

  •  Mudando um pouco de assunto, porque é que decidiu ser Oftalmologista?

FH – De todas as especialidades médicas, a oftalmologia acabou por ser a minha escolha porque, um belo dia, decidi assistir a algumas cirurgias de catarata. Fiquei fascinado pelo minúsculo tamanho dos instrumentos e pelo facto de a cirurgia ser feita com microscópio. Na realidade, sob a luz do microscópio, o olho “agiganta-se” e passa a ser um mundo em si mesmo.

 

Qual a sua maior realização a nível profissional?

FH – Mais do que o reconhecimento pelos pares, ou pelas pessoas em geral relativamente à qualidade do meu trabalho, o que mais me realiza em termos profissionais é ver o sorriso de satisfação de doentes que estavam “cegos” e que passam a ver 12h depois de uma cirurgia. Infelizmente, hoje em dia ainda nos aparecem pessoas de várias idades que deixam desenvolver cataratas nos seus olhos até ao ponto de ficarem completamente cegas. Quando as operamos, voltamos a abrir-lhes a janela para o mundo que há muito se encontrava fechada. Não deve haver alegria comparável a essa. De tal forma que transborda para o médico. Outro exemplo, que tem tanto de gratificante como de emocionalmente intenso é operar um descolamento de retina num olho único. Sentimos que as nossas ações vão recuperar a visão de um olho que estava “condenado” e que, por ser único, representa muito para a qualidade de vida desse doente.

 Pegando nas suas palavras, porque é que acha que a visão é assim tão determinante para a qualidade de vida de uma pessoa?

FH – Os doentes é que dizem: “ Doutor, a mim tirem-me tudo! Mas as minhas vistinhas…..” . Na realidade, a visão é o sentido que nos conecta de forma mais permanente ao mundo que nos rodeia. Podemos ficar em silêncio e deixar de ouvir, podemos deixar de tocar nas pessoas, podemos comer alimentos sem sal e sobreviver, há muitos pessoas que não têm olfato e conseguem fazer uma vida normal. No entanto, precisamos dos nossos olhos desde o primeiro minuto da manhã para ver as horas no despertador. Só deixamos de usar a visão quando fechamos os olhos para dormir. E mesmo aí criamos imagens sonhando. Para além disso, hoje em dia, a nossa sociedade não funciona sem imagem. São os computadores, a TV, os tablets, os telemóveis…. Sem o sentido da visão estas palavras não poderiam ser lidas. Somos seres sociáveis e, de todos os sentidos, a visão é o que contribui mais decisivamente para a vida em sociedade. Não foi por acaso que José Saramago escreveu “ o ensaio sobre a cegueira” e não “o ensaio sobre a surdez” por exemplo.

Quer falar-nos de algum caso específico que o tenha marcado especialmente?

Nunca me esqueço do caso de um menino de 15 anos com uma doença hereditária chamada síndrome de Usher, que é uma doença que cursa com retinopatia pigmentar e surdez parcial. O rapagão, bonito e matulão, entrou sorridente no gabinete pela mão da mãe. Tinha deixado de ver do único olho que até ali funcionara. Era olho único e tinha um descolamento de retina nesse olho. Imaginei-me com 15 anos a andar na escola e, de repente, a deixar de ver. No lugar dele eu estaria em pânico! No entanto, ele estava tranquilíssimo, como se aquilo fosse apenas uma simples constipação. Estava bem tão bem-disposto que me perguntou de que clube é que eu era. Claro que ele era do Benfica e não gostou de saber que eu era do FC Porto. Disse-lhe que a cirurgia seria no dia seguinte e ele saiu do gabinete a gritar: “Benfica!” só para me irritar. No dia seguinte à cirurgia eu estava ansioso por ver como ele estava. Entrou no gabinete a gritar “Benfiiiica!”. Isso não me disse muito quanto ao sucesso da cirurgia, uma vez que a boa disposição dele era igual com e sem visão. O que me deixou feliz foi ver que se dirigiu a mim, olhando-me nos olhos, para me cumprimentar sem a ajuda da mãe. E o que mais me impressionou nele é que ele estava tão bem disposto quando não via nada como no dia a seguir à cirurgia ou numa semana depois em que já conseguia ver 60 ou 70%.

 Em geral, acha que as crianças são melhores doentes que os adultos?

Eu acho que isso varia um bocadinho. Mas, em geral, eu diria que sim. Se calhar porque têm uma perceção do mundo  mais inaugural digamos. Aceitam melhor tudo o que vem do mundo. Aceitam melhor as fatalidades da vida porque acham que tudo faz parte não é!? Há pessoas que  são otimistas por natureza, quer sejam crianças quer sejam adultos. Esse menino impressionou-me por isso. Era um menino que já há muitos anos só tinha uma ilha de visão central, por causa da retinopatia pigmentar. E tinha a surdez e portanto…já estava habituado a lidar com a adversidade. Por ele já saber lidar com a adversidade é que não entrou em pânico. Não foi por ser do Benfica (risos).

o que acha que é mais relevante na sua relação com os doentes, no que se refere à gestão de expectativas?

Costumo dizer que os doentes perdoam melhor uma ignorância do que os maus modos. Deve-se dialogar muito com os doentes e de forma empática. Se explicarmos muito bem e com clareza o que se passa com os seus olhos, saberão aceitar as indiossincrasias das suas patologias. Um exemplo bom é quando me aparece um doente com um glaucoma terminal. O glaucoma é uma doença terrível porque para além de ter uma evolução silenciosa, vai causando morte celular a nível do nervo ótico. E essas lesões são irreversíveis! Por vezes os doentes vão à consulta pela primeira vez quando o glaucoma já fez quase todo o seu “trabalho”. Os nervos óticos estão quase “secos” e a visão para os lados desapareceu. Temos que explicar muito bem a estes doentes que a situação é grave e irreversível e que o objetivo, de ali em diante, é conservar o que ainda funciona e não recuperar o que se perdeu. É importante gerir as expectativas do doente quanto à eficácia e limitações do tratamento. Por vezes, temos que repetir a mesma informação várias vezes ao longo das diversas consultas, porque os doentes mais otimistas esquecem-se do que foi dito e dão asas à esperança de voltar a ver como quando tinham 20 anos. É importante assentar-lhes os pés na terra por forma a que cumpram a medicação que lhes pode conservar a pouca visão que lhes resta.

 Queria agradecer-lhe pela sua sinceridade, e pela oportunidade de esclarecer os nossos leitores relativamente aos pensamentos que povoam a cabeça de um Oftalmologista. Antes de terminar, gostaria de saber o que mais acha que a Oftalmologia do HMM pode dar à população da Mealhada e arredores.

FH – Continuaremos a trabalhar como até aqui. Ou seja, fazendo todos os esforços para acompanhar o que de melhor se faz no mundo nesta área, mantendo um ambiente agradável entre profissionais para que também os doentes se sintam em casa, e à-vontade para expôr os seus problemas. Existem planos para efetuarmos campanhas de rastreio nomeadamente no se que refere à população infantil/juvenil ( para despiste de ambliopia, miopia, astigmatismo, hipermetropia ) e aos adultos ( despiste de glaucoma, erros refrativos, retinopatia diabética etc…). Queremos contribuir para que as pessoas disfrutem do melhor e mais completo sentido que nos foi concedido pela natureza: a Visão!

 

 

Normalmente as pequenas reclamações são por coisas triviais! [acentua com as mãos]…que não tem interesse nenhum no prognóstico visual dos doentes. Portanto… as pessoas em geral reclamam por coisas que não têm significado clínico. [acentua o tom de voz]….São por… por [aaa]… coisas que, digamos…de logísticas! Ou de antipatia!… Já havia um professor que dizia, que os doentes perdoam melhor uma ignorância do que os maus modos….E então… [aaa]…e é um bocado assim. [encolhe os ombros].

Tentamos… em doentes que estão um bocadinho… insatisfeitos. Por qualquer motivo tentamos [aaa]…primar pela, pela  cordialidade e pela simpatia. É é assim que os desarmamos. [sorri].

O que é estranho ver é…como já referi [aaa]… os pacientes ficarem insatisfeitos… por coisas que. Que não têm nenhuma importância clinica!…. Por exemplo… pessoas que ficam a ver cem por cento depois de uma cirurgia! Depois entram no consultório e nos perguntamos…. Perguntamos …Então, então como é que vai isso? [acentua o tom de voz]… E depois eles queixam-se que, que não estão bem! Estão-se a queixar que não estão bem [reforça com as mãos]… e depois quando eu pergunto o que é que se passa eles dizem: “há, por vezes tenho umas picadas”… ou:” por vezes chora me o olho”.

E portanto…nos estamos preocupadas em saber se o olho ficou bem, e se a pessoa está a ver bem [acentua com as mãos]. [eee]…e o doente esta preocupado com umas picadas. [risos].

E portanto as vezes os doentes [aaa]…não se focalizam… [passa mão no queixo] não se focalizam nas questões importantes, e depois reclamam de coisas sem importância nenhuma.

E às vezes o contrario também acontece; que é [sorri]… os doentes não ficam a ver muito bem [aaa]… e que estão altamente satisfeitos! [acentua o tom de voz].

 

Então considera que as pessoas no geral não compreendem que uma cirurgia tanto pode correr bem como correr mal?

[aaa]… Em geral nós tentamos explicar isso aos doentes, é por isso que eles assinam um consentimento informado. Só que… muitas vezes as pessoas…por vezes estamos a falar de doentes com oitenta e tal anos! Ou pessoas que não têm um grande nível cultural e que…as vezes nem ler sabem! [acentua com as mãos] E portanto…o que eu faço…normalmente, por vezes quando tenho tempo…[aaa]… porque muitas vezes o volume de consultas é tanto que às vezes não há tempo para explicar tudo. [acentua o tom de voz] Mas… sobretudo nestas pessoas o que eu tento explicar [aaa]…. É que… ser operado e as coisas correrem mal é… é quase como irmos na rua e cair-nos um raio em cima! [risos].  Ou irmos de avião e o nosso avião cair… portanto são coisas… que para além de terem uma probabilidade baixíssima, mas que não deixam de ser uma realidade! Quer dizer!  E eu tento… tento explicar isso às pessoas e com essas analogias elas percebem melhor. Mesmo… mesmo não tendo um grande grau de escolaridade elas conseguem perceber bem o que isso quer dizer.

 

  E já alguma vez teve alguma reclamação formal que lhe trouxesse problemas na sua carreira?

[aaa] Problema não, mas já tive um processo sim. Porque… porque trato muitos diabéticos. E os diabéticos infelizmente… cerca de 20% dos diabéticos que desenvolvem retinopatia diabética proliferativa acabam por cegar.

[eee]… e portanto foi um desses doentes que; Que cegou por causa da doença mas é claro que é mais fácil culpar os médicos. [encolhe os ombro] Era um doente que… já tinha sido tratado muitas vezes na Alemanha! E também cá em Portugal por outras pessoas… e os olhos…um dos olhos estava preso por um fio! E calhou-me a mim explodir-me a bomba nas mãos. [pisca bastante os olhos].

Portanto o olho cegou nas minhas mãos…porque por vezes o olho é uma bomba relógio que anda ali. [eee]… depois se nós tratamos os doentes por vezes os doentes cegam-nos nas mãos! Porque a doença esta ali já… está ali já no limite. Já esta digamos… na parte mais avançada… [coça a cara] a patologia esta em fase muito avançada [tossiu] e por vezes os olhos cegam mesmo.

  • Pode falar-me sobre alguns dos casos que mais o marcaram e qual o mais difícil de comunicar?

Se calhar um dos casos que mais me marcou…. Foi…foi talvez uma… uma senhora que. Que era,… digamos esposa de um ex diretor do hospital. E que já só via de um olho. Tinha uma miopia alta [engoliu em seco]. E o outro olho cegou já por causa dessa miopia. [gesticula] Aquele olho também já estava a ver muito pouco mas entretanto… a retina dela tinha descolado e eu… operei-a o mais rapidamente… foi logo nesse dia, não sei! [eee]…ela é muito simpática, mesmo muito simpática para além de ser…vip. [sorri e reforça com as mãos]. E havia varias pessoas no meu serviço que gostavam muito dela. [rói as unhas)e que já a conheciam.

E eu senti-me quase na obrigação de a por a ver outra vez! [eee]… e eu nesse dia… contrariamente ao que costumo fazer que é ver o doente no dia seguinte. Nesse dia não consegui conter a ansiedade e fui ao hospital. [morde o lábio e olha para longe] Fui ao hospital… tirar-lhe o penso. E para…para lhe dar a boa nova! [aaa]… e para ela ficar, contente antes adormecer…. Porque a cirurgia tinha corrido bem! Não tinha havido nenhuma complicação. E portanto a retina estava no sítio. [aaa, eee]… e eu fui la então tirar-lhe o penso. [vos trémula] E pus-lhe assim os dedos à frente [exemplifica] mas ela não conseguiu contar dedo nenhum… E começou a chorar [reforça com as mãos] e. [aaaa]… a dizer-me… para eu não lhe pedir. Para eu não lhe pedir para contar dedos.[engole em seco] E então…[aaa]… pronto esse marcou-me pela… pela negativa! [suspiro] Porque era olho único e [aaa]… a cirurgia tinha corrido muito bem..  [coça o olho] e até hoje!

Ela já fez vários exames. E até hoje não há uma explicação concreta…até hoje ainda não conseguimos explicar muito bem porque ela não vê! Mas o que é facto é que… deixou de ver!

[eee]… Se calhar pela positiva…. Também [aaa]…, também há coisas pela positiva. Foi um menino de…de 15 anos?…[muda para um tom de voz mais entusiasmado] Que …há uns tempos… tem uma doença genética! Uma doença hereditária; [reforça com as mãos] chamada síndrome de Usher. que é uma doença que cursa com… retinopatia pigmentar e surdez [passa a mão na cara] e, é um rapaz que…entrou no gabinete… sem ver nada do olho. Tinha cegado do olho, portanto só tinha aquele olho. Era olho único.

Os casos mais dramáticos, tanto para o bem como para o mal são sempre os olhos únicos. Então este… entrou no gabinete com a mãe… sem ver nada. E era assim um rapaz, todo bem-disposto, muito bem apresentável….era assim um matolão. [exemplifica] Tinha um aparelho por, por causa da surdez e para conseguir falar. E….. e entrou no gabinete sem ver nada, mas… todo bem-disposto. Portanto, tinham-no enviado do pediátrico para… para eu avaliar. Para ver o que é que era.

Ele estava super bem-disposto como se nada fosse. [acentua o tom de voz] Mas no entanto… não estava a ver nada estava a ser conduzido pela mãe. Sentou-se la na… na…. na cadeira e… e estava tão bem disposto [dá uma forte entoação ao tom de voz] como no dia a seguir a cirurgia em que eu o operei e… em que ele já via.

Ele já conseguia vir sozinho, veio-me cumprimentar. E o que mais me impressionou nele é que ele estava tão bem disposto quando não via nada como no dia a seguir à cirurgia ou numa semana depois em que já conseguia ver 60 ou 70%. [acentua com as mãos].

Pronto, já via o mesmo do que antes da operação basicamente!

Ou seja, o Drº acha que as crianças se conseguem adaptar melhor a essas situações?

Eu acho que… sobretudo… eu acho que isso varia um bocadinho. Eu acho que, que de facto as crianças são melhores doentes do que os adultos. Se calhar porque… como tem uma…perceção do mundo mais…. mais inaugural digamos, [acentua com as mãos] aceitam melhor tudo o que vem do mundo.

Aceitam melhor as fatalidades da vida porque… porque acham que tudo faz parte não é!? [sorri] E aceitam melhor as adversidades.

E então… mas o que eu acho é que … há pessoas que …há personalidades que são, são otimistas por natureza quer sejam crianças quer sejam adultos [aaa]… essa criança impressionou-me por isso. E porque também já tinha limitações. Era um menino que já desde muitos anos só tinha uma ilha de visão, por causa da retinopatia pigmentar. E tinha a surdez e portanto…já são miúdos habituados a lidar com a adversidade. Portanto [noo]… se calhar por isso é que também… ele soube lidar com a situação! De quando esteve cego! Se calhar por isso. Por ele já saber lidar com a adversidade é que… não entrou em pânico.

E bebés, já operou algum bebe?

[aaa] bebe, bebe, bebe…acho que… já operei bebes. [aaa]… Já operei bebes com doenças… doenças da retinopatia da prematuridade e… [tosse] e doenças hereditárias também [vós tremula] e… mas sempre que se tem de… são cirurgias laser. Fazer laser da retina e… essas…situações são sempre… normalmente nessas situações  o prognostico a longo prazo é sempre reservado e…  tentamos sempre fazer o, o melhor. Mas, mas aí…nesses casos, estranhamente ou não, aí já não há aquele apego emocional.

Porquê?

Porque normalmente quando eu faço isso vou ao pediátrico. E vou diretamente ao bloco. E já vejo a criança já …anestesiada. Normalmente quem segue… quem segue são outros colegas meus. Eu só la vou fazer o serviço digamos [risos] e portanto não tenho aquele apego emocional. Porque já só vejo um olho… nesses casos eu já só vejo um olho.

  • Preocupa-se com o acompanhamento dos seus doentes mais graves em horário pós laboral?

É assim… [uuu]…. Quando… quando nos envolvemos emocionalmente digamos que com uma situação qualquer não… não existe propriamente um horário! [passa a mão no queixo] Fazemos aquilo que for preciso…e… eu acho que no geral… qualquer pessoa quando se envolve emocionalmente tem… tem tendência a fazer isso sim. Só que… só que isso também é raro. Porque em meio hospitalar temos sempre o apoio uns dos outros, e há sempre alguém da nossa confiança lá no hospital… e muitas vezes delegamos essas tarefas a quem lá estiver em horário laboral.

Portanto temos que confiar a outros as nossas tarefas. [acena afirmativamente com a cabeça] Só não faço isso, como eu expliquei á pouco no caso daquela senhora.  Por exemplo fui ao hospital à noite… faço isso sim, [aaa]… excecionalmente. Em situações em que eu estou efetivamente envolvido emocionalmente e quero ser eu [acentua bastante o tom de vos] [aaa] a ver… e… não quero que. Não quero que mais ninguém mexa, digamos assim.

 Costuma disponibilizar o seu contacto telefónico aos doente que considere necessário?

Sim tenho esse habito sim, [sorri] tenho o habito de…. disponibilizar o meu contacto telefónico em situações em que…precisamente, nas situações que falamos há pouco em que alguma coisa correu mal, e disponibilizo o meu contacto telefónico porque quero que as pessoas me contactem a mim [acentua o tom de voz] e não a outro qualquer que lhe vá meter macaquinhos na cabeça. [pisca os olhos]

Portanto quero…quero ficar com uma ligação às pessoas em que houve alguma coisa menos favorável e… também noutras situações em que não se sabe muito bem qual vai ser a evolução clinica e em que fico na duvida se as coisas vão evoluir para bem ou para mal e. E eu gosto que… que as pessoas me contactem se houver algum, [aaa]… se houver alguma complicação ou se houver algum agravamento da situação clinica.

E costumam contactá-lo muito?

[aaa]… Especialmente quando estou a almoçar [sorri], mas e…. é assim, eu acho que as pessoas até são bastante respeitadoras porque eu dou muito [acentua o tom de voz] o meu contacto. E por exemplo… por exemplo à noite é raro alguém me ligar. Ou a partir das 8 da noite é muito raro alguém me ligar. Mas durante o dia recebo bastantes chamadas, sim. [acena afirmativamente com a cabeça]

 6c- É habitual doentes da sua confiança, isto é; que são normalmente seguidos por si, ligarem-lhe só para tirarem pequenas dúvidas?

Sim, sim. É habitual sim! [acena afirmativamente com a cabeça]

É alguns até… especialmente chatos [risos].

Isso é porque o doutor é certamente simpático e paciente?

Sim sou…Sou simpático mas às vezes… deixo…ligo o alta voz… e deixo-os a desabafar um bocadinho. [sorri]

 

 

  • Ópera familiares e amigos?

 

[aaa]… é assim o mais próximo de um familiar que eu operei foi… o meu padrinho de batismo. [hummm]… e….[rói as unhas], e foi uma experiência um bocadinho…. complicada.

Porque o olho dele. O olho dele era muito complicado e…e eu não recomendo. [acena negativamente com a cabeça] Eu não recomendo a ninguém operar familiares próximos porque… a…..

Por uma razão simples! Porque mesmo que consigamos controlar a nossa ansiedade durante a cirurgia, se por acaso houver alguma intercorrência… ou alguma situação inesperada [aaa]… o grau de… a…. digamos… a adrenalina, pode comprometer o raciocínio. [reforça com as mãos]

E a frieza para lidar com a situação será…. digamos, será proporcional à ligação que temos com a pessoa. [passa a mão no queixo] Portanto nunca, nunca teremos uma frieza, [aaa]… a frieza adequada para lidar com a situação.

Portanto eu acho que… [aaa]…. familiares e amigos eu acho que não….que não devem ser operados pelo cirurgião. [voz ténue]

É preferível recomendar um colega da nossa confiança.

 

Desculpe já agora, voltando um pouco há questão anterior em que disse disponibilizar o seu contacto, é habitual os doentes ligarem-lhe apenas porque precisam de alguém para desabafar?

 

Não, não isso é raro acontecer. Quer dizer… há um ou outro….que são… são…. Até uma delas é familiar de um doente meu, mas que eu tenho a noção que… que quando telefona não consegue parar de falar.

É mais por esse aspeto por ser muito faladora e repete 30 vezes a mesma coisa [reforça com as mãos] mas não… não acho que seja para desabafar.

E os outros, eu acho que…99% dos doentes que ligam a um médico dos olhos é mesmo para esclarecer dúvidas dos olhos [sorri]

 

E em consultas de rotina, não costuma apanhar pessoas idosas que começam a falar sobre a vida?

 

Sim.. sim claro.  As vezes há pessoas que começam a falar… e por vezes quando a conversa é interessante eu ate puxo, até puxo por eles [sorri]… quando tenho tempo.

O problema das consultas de oftalmologia é que normalmente são curtas porque…. O agendamento e…. é feito de 15 em 15 ou de 20 em 20m e portanto não há muito tempo [acentua o tom de voz] para conversar.

E portanto nunca dá para explorar muito. Mas [aaa]… de qualquer maneira… às vezes as pessoas… o que acontece não é bem isso.

As pessoas que precisam…. digamos…. que têm outro problema. Que têm um problema a nível psicológico ou psiquiátrico, e que recorrem ao médico dos olhos, e já tenho tido alguns doentes, não recorrem para desabafar.

Recorrem por exemplo… com uma dor no olho, ou um lacrimejo… ou com uma picada, [gesticula com as mãos] ou com qualquer coisa que não…que clinicamente não é detetável.

E portanto chama-se a isso a…. somatização. Portanto somatizam as doenças oftalmológicas e fazem que. Fazem que muitas vezes eu tenha… e já me aconteceu varias vezes e até com sucesso, [sorri] eu tenha que [aaa]…. Com muita calma aconselhar os doentes a recorrer a ajuda psicológica ou psiquiátrica porque…. Eu tento explicar às pessoas…

Já me aconteceu por exemplo um caso de uma doente que tinha um problema de olho seco, já tinha ido a 3 ou 4 oftalmologistas em Lisboa e também aqui em Coimbra. E depois veio ter comigo.

E…. e eu tratei-a ela continuava… e entretanto ela vinha às consultas…[eeeee] desatava a chorar de desespero. Porque já não aguentava mais o olho seco e não conseguia…[acentua o tom de voz], [gesticula com as mãos]

E eu expliquei-lhe que muitas vezes existem queixas que são exacerbadas pela presença de… de um síndrome depressivo por exemplo. E que muitas vezes mesmo que o síndrome depressivo esteja relacionado com o olho seco… [move-se no sofá]

Vamos imaginar que o olho seco por já durar há muitos meses lhe tenha provocado uma depressão!? Ela começou a deprimir porque nunca mais teve qualidade de vida por causa das queixas dos olhos.

Tento explicar às pessoas que por vezes…o facto do síndrome depressivo se instalar, nós estamos a tratar um problema que é intratável, se não se tratar o problema secundário. Ou seja o problema secundário passa a ser o problema primário. [acentua o tom de voz] Passa a ser o problema mais importante.

E depois….. já me aconteceu ter uma conversa destas com doentes que vinham muitas vezes há consulta com queixas desproporcionais à clinica… nós observávamos e não encontrávamos nada! [aaa]…. e depois passado alguns meses apareciam lá todos contentes! A agradecer. [sorri]

Porque tinham ido ao psiquiatra… ou ao psicólogo, tinham começado a fazer antidepressivos e estavam muito melhores. E…. e os sintomas desapareceram.

 

E é comum aparecerem doentes com queixas oftalmológicas cujas causas primária sejam problemas psicológicos ou neurológicos?

 

[aaa]… Eu acho que…. É assim… eu acho que é frequente e nós ao fim de 10 minutos de consulta detetamos essas pessoas facilmente. Porque… [pisca os olhos] porque elas. Porque elas queixam-se muito desproporcionadamente em relação ao problema que têm. E…e portanto se…[aaa]…até prova em contrario nos tratamos sempre as queixas não é!? [acentua com as mãos] E tratamos sempre como se aquilo fosse mesmo causador de tanta… tanta agustia. Mas depois… se ao fim de duas ou três consultas as queixas se matem iguais [aaa]… como se nós não estivéssemos a tratar nada, continuamos a olhar e clinicamente não se vê lá nada de especial [aaa]…então, então ai recomendamos.

Mas acho, acho que essa frequência [aaa]… mesmo assim…[aaa]… eu não posso, não posso dar percentagem porque não as tenho. [aaa]… mas de qualquer forma… [aaa]…acho que é uma frequência…. Relativamente alta sim.

De pessoas que recorrem a qualquer especialidade. Não é só a oftalmologia, mas a minha experiencia é de, é nos olhos, não é!?. [aaa]… e existe alguma percentagem até de insatisfação após uma cirurgia. [aaa]… existe muita gente que faz ansiolíticos e antidepressivos…. Muitas vezes há um componente psicológico associado aos sintomas que as pessoas têm, sim.

 

 

 Considera que qualquer profissional têm a perspicácia necessária para detetar esses problemas, ou é uma questão de temperamento?

 

Sim, se calhar há pessoas mais…. vocacionadas para detetar isso! [coça a cabeça] Não sei, [aaa]…. quer dizer… não sei se sou mais sensível ou menos do que os outros… mas…sei que…que consigo reconhecer já alguns padrões nas pessoas quando elas não… sempre que… que aquilo que nós conseguimos, que observamos não corresponde… [aaa]… ficamos sempre de pé atras.

 

Conclusão:

  • Concorda com a ideia pré existente de que, por vezes, o doente não é tratado com a humanização merecida?

 

[aaa]… Não, não concordo. [aaa]… isso acontece episodicamente  em todos os lados e com todas as pessoas. E…[humm]… eu… [pisca os olhos] eu acho que na maioria dos colegas, dos meus colegas, [aaa]… eu acho que existe humanização, sim.

Mas existe muitas vezes também alguma… alguma…[aaa]… excesso, se calhar, excesso de números… ou seja excesso de doentes.

As administrações hospitalares querem apresentar números. As clinicas privadas querem apresentar números…querem números e isso corresponde a faturação. [pisca os olhos e acentua com as mãos] e…. e portanto muitas vezes existe uma necessidade de… de produzir, entre aspas. [acentua o tom de voz]

Produzir! E isso significa ver muitos doentes. E aí a qualidade baixa. claro! Isso condiciona muito [aaaaaa]… o tempo. O tempo é fundamental.

Ninguém pode ser… ninguém consegue ter muito essa… Essa coisa dos cuidados humanizados exigem tempo, não é!? é impossível….é impossível dar bons e muitos cuidados… sem tempo. [encolhe os ombros]

E isso condicionamento muito a resposta dos médicos e… por exemplo já me aconteceu a mim no hospital que é… já me aconteceu dizer a um doente que já não tinha, que não tinha tempo para mais preguntas! E ele teve que ir embora com as perguntas que ainda tinha para fazer…[ergue as sobrancelhas] Porque ele voltou a traz ia a sair… e queria fazer uma pergunta! Só que eu tinha muitos [acentua o tom de voz] doentes para ver nessa manha e ele voltou atras…e eu disse: “olhe, não posso responder a mais perguntas, já estou a chamar o próximo doente.” [faz gestos com as mãos] E ele foi-se embora!

Ou seja, às vezes…. eu tenho a noção que, que com falta… com falta de tempo, qualquer pessoa pode perder a humanidade.

 

 

 

 

 Ou seja, o que quer dizer é que a sensação de desumanização ocorre do sistema, da organização hospitalar, do excesso de doentes e da falta de médicos?

 

[aaa]… Não sei se é falta de médicos porque… no hospital onde eu trabalho há quase um medico por doente! Não é por falta de médicos. Se calhar é porque… se calhar se existe, é porque se exige aos médicos [acentua o tom de voz] ver uma quantidade….enorme de doentes…Eu estava a falar de um médico por doente, mas é um médico por doente dos internados! Não, não é os doentes que lá vão às consultas.

Mas e… exige-se ver muitos doentes numa manha… ou numa tarde… e…e…. Pronto.

 

Sim, mas compreende que a maioria dos doentes não se apercebem desses problemas internos, e podem sentir-se mal com determinadas situações?

 

É assim, [aaa]… há pessoas que esperam um ano pela consulta. E que vêm da Covilhã de propósito para uma consulta. É claro que quando veem, ao fim de um ano de espera…querem ser… querem ser tratados e vistos como deve ser, não é!? [gesticula] Não é…serem tratadas em 5minutos e com um pontapé no rabo. É óbvio que… é óbvio que… da perspetiva de, de um doente que espera um ano pela consulta, se a consulta for…for feita de uma forma rápida e sem conversa…. [aaa]… sobretudo para quem vem de longe, dá… dá a sensação de que não foi… tomado em atenção, e dá sensação de que ele não é o centro da atenção naquele momento.

 

Desculpe, mas já agora voltando mais uma vez a uma das questões anteriores em que me referiu disponibilizar o seu contacto telefónico; acha que muitos dos seus colegas o fazem, ou é raro?

 

É raro. Tenho… tenho consciência que é muito raro fazerem isso que eu faço, sim. [acena afirmativamente com a cabeça]

 

  • Nesse aspeto considera haver diferenças relevantes entre hospitais públicos e privados?

 

[aaa]…[pôs as mão atras do pescoço] … por um lado sim.

[aaa]… se falarmos… de clinicas, que… não têm acordes com…adse`s e… nem muitos subsistemas de saúde.

Penso que nessa situação, em que as clinicas têm muitos acordos, inclusivo com a adse, que é, que são acordes para funcionários públicos [gesticula] Pela minha experiencia está a acontecer um bocadinho que é quase… em certas situações quase uma réplica do que acontece nos hospitais públicos.

Porque [aaa]… porque está-se a encher as agendas dos médicos à bruta. E… e às vezes os médicos têm que… tem que andar a correr para cumprirem também com, com números.

E as grandes clinicas fazem grandes investimentos que têm que ser amortizados. E têm que ser amortizados com o trabalho do médico. E… o médico a ver um doente por tarde não amortiza o investimento feito. [sorri] Tem de ser [aaa]… 20 ou 30 doentes.

E… portanto, às vezes eu sinto, [aaa]…nessa perspetiva que vai acabar por não ser assim tão diferente uma abordagem da outra.

Claro que na, na questão da, da fachada… do digamos do aspeto das coisas! Da… do luxo e assim as clinicas privadas têm tendência a ter um aspeto mais convidativo, e mais…mais…cuidado.

Mas…. ao mesmo tempo o que é essencial que é o tempo que o medico passa com o doente… acho que começa a ser muito… muito igual.

 

 Ou seja, para ver se entendi; aquela situação dos doentes com possibilidades económicos preferirem recorrer ao privado à procura de um melhor serviço, isso já quase não existe?

 

Existe… na perspetiva da cirurgia! Porque aí, enquanto num… e na, na consulta também, em relação ao tempo de espera! Não é… ao dia da consulta. É mais em relação aos tempos de espera. Portanto, em relação à consulta em si mesmo, vai dar um bocado ao mesmo [gesticula]

Em relação ao tempo de espera, enquanto… se uma pessoa precisar de uma consulta, por exemplo de dermatologia! Num hospital público pode ter que esperar 1 ano ou 2! [acentua o tom de voz] E a mesma coisa depende dos hospitais ou dos centros de saúde. E da… e se a credencial se perdeu se não se perdeu…isso… às vezes é um bocado imprevisível.

Mas em relação a tempos de espera, é muito, muito superior do que se o doente quiser, poder pagar do seu bolso. [acena com a cabeça]

Se a pessoa quiser pagar do seu bolso no privado pode ter uma consulta na semana seguinte, ou… no próprio dia. E nas cirurgias a mesma coisa!

As cirurgias têm uma lista de espera no hospital público que não existe na privada. E aí podem ser operadas rapidamente e por quem… por quem escolhem.

 

 As pessoas podem escolher o médico que preferem?

 

No privado!? Claro. [acentua com a cabeça e com os ombros]

Claro. Isso é uma mais-valia porque nos hospitais públicos… são hospitais que têm idoneidade para formar médicos e portanto. As vezes nos hospitais públicos pode-se ser operado por uma pessoa que esta em aprendizagem… pode estar a ser operado por uma pessoa que está a operar pela primeira vez! Claro com a supervisão de um mais experiente, mas pode, pode ser….

 

 Então e no privado o doutor Diniz costuma ser muito solicitado?

Sim! Por acaso costumo ser bastante solicitado, sim. (sorri)

 

  • Qual a capacidade do médico para se colocar na posição do doente?

 

Eu acho que… [passa a mão na cara] a capacidade, essa capacidade… está diretamente ligada à… à carapaça que o médico vai criando… vai criando ao longo da vida para não se deixar envolver emocionalmente em demasiado.

É óbvio que essa capacidade vai-se desenvolvendo ao longo da carreira e porquê!?

Porque é um mecanismo de defesa, que vai criando camadas…. camadas à volta do médico. [aaa]…que… para criar um certo clima… um certo clima de normalidade que… mesmo para as doenças mais graves e para os dramas humanos mais…. Intensos, o médico têm que ir criando uma defesa e…passa a estar ali com um papel… por exemplo para quem é cirurgião!

Como é por exemplo o meu caso. [eee]…passa a estar ali com o papel do.. do arranjador, (sorri). Portanto eu sou o arranjador do olho, mas não… tento não… não me envolver emocionalmente….

A não ser em casos inevitáveis.

Tirando isso eu tento não me por muito no papel do doente porque… pronto. Não acho que tenha utilidade… eu apenas faço isso no sentido de ser…[pisca os olhos] o mais simpático possível para os doentes todos os dias. [acentua o tom de voz]

Mas isso é porque, no dia-a-dia eu também sou assim com as outras pessoas. Não é só com os doentes.

Portanto é nesse sentido que eu tento colocar-me no lugar deles, sobretudo quando é no hospital público em que se está… não sei quanto tempo à espera de uma consulta e… e depois chegarem lá e terem que aturar um médico mal disposto. Portanto eu tento… tento não ser esse médico mal disposto.

 

 E apercebe-se frequentemente dessa a atitude menos profissional nos seus colegas?

 

É assim… eu tenho alguma dificuldade em falar dos meus colegas! Sobretudo porque… eles não estão aqui para se defender… eu também não vou às consultas deles… Mas sim, eu tenho uma ideia que tal como em todas as profissões há umas mais rabugentas do que outros.

E pessoas menos, [aaa]… com mais mau feitio digamos! [acentua com as mãos] E sei porque por vezes… há doentes que se queixam. Sobretudo por queixas dos doentes.

Por vezes há doentes que se queixam que foram há consulta com X ou com y e que… foram mal tratados e não sei quê… eu oiço muito isso e espero é não ter, é…. doentes meus a dizerem o mesmo de mim.

Sim mas quanto a pôr-me na posição do doente e tentar… [pisca os olhos], tentar ser simpático, e fazer com que eles saiam satisfeitos… sim eu acho que faço isso naturalmente sem…. sem esforço algum.

Eu também gosto de ser atendido, em qualquer situação… e portanto… acho que isso é algo natural. Não… não uso nenhuma estratégia especial. [sorri].

 

 

 

By | 2019-04-27T15:35:55+00:00 Novembro 10th, 2018|Notícias|0 Comments

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