Dislexia

Dislexia

A dislexia de desenvolvimento é uma perturbação de aprendizagem específica de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade na precisão e/ou fluência na leitura de palavras e uma fraca competência ortográfica. Essas dificuldades resultam de uma insuficiente compreensão fonológica da linguagem, que é incompatível com as restantes competências cognitivas e com as condições educativas proporcionadas, sendo que normalmente, estas crianças têm uma inteligência de média a superior. Existe uma forte componente hereditária nesta perturbação.

Assim, de acordo com o DSM‐5, observa-se nestas crianças um desempenho na fluência, precisão e/ou compreensão da leitura substancialmente abaixo do esperado para a idade cronológica que interfere significativamente com o rendimento escolar e com atividades da vida quotidiana.

Estima-se que, em Portugal, a dislexia afete cerca de 5% das crianças em idade escolar, e poderão estar presentes outros problemas tais como disortografia, disgrafia, discalculia ou mesmo défice de atenção (Vale et al., 2011).

A aprendizagem da leitura é uma competência complexa que requer a conversão de símbolos gráficos (grafemas) nos sons (fonemas) correspondentes e envolve um adequado funcionamento de diversas funções neurocognitivas e a ativação de diferentes regiões cerebrais. Através de estudos de neuroimagem, foi possível demonstrar uma menor ativação das regiões parietal-temporal e occipital-temporal do hemisfério esquerdo em indivíduos disléxicos, quando comparados com os normaléxicos, evidenciando comprometimento de funções como o processamento fonológico, funções executivas e memória de trabalho (Lyon et al., 2006).

A presença de dislexia só poderá ser confirmada quando o período normal para o processo de aquisição da leitura estiver concluído, ou seja, por volta dos 8 anos. O diagnóstico terá de ser feito por um profissional qualificado através de uma avaliação neurocognitiva com recurso a provas validadas e normalizadas, acompanhada de uma correta recolha de informação médica, desenvolvimental escolar e sintomatológica feita junto de familiares e professores.

Quais os principais sintomas?

De uma forma sucinta, as crianças com dislexia têm dificuldade em perceber os sons das letras e das silabas, em perceber que as palavras são compostas por partes menores, bem como em manipulá-las e perceberem que é possível criar novas palavras acrescentando, retirando e invertendo silabas. Estas crianças, têm ainda dificuldades em aprender/compreender as rimas, e na leitura e escrita podem cometem erros ao trocarem letras como por exemplo “t/d”, “f/v” ou mesmo inverterem silabas completas (ex.: prédio/pérdio). Estas crianças possuem assim uma leitura silabada, com hesitações e alterações sem ritmo nem expressão e com dificuldades na compreensão. Em alguns casos, poderá ainda verificar-se dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua.

Quais os sinais precoces?

Antes do início da aprendizagem da leitura, poderão já ser sinais de alerta problemas na lateralidade, psicomotricidade, orientação no espaço-tempo, nas competências psicolinguísticas e alterações na atenção ou memória imediata. Por outras palavras, a dificuldade em reconhecer e sentir no seu próprio corpo ou no do outro o “atrás”, “à frente”, “ao lado”, “a direita” e “a esquerda”. A confusão em localizar-se num mapa, confusão com símbolos gráficos e dificuldade, por exemplo, em compreender tabelas de dupla entrada. A aquisição tardia da noção de tempo (horas, dias da semana). A dificuldade na construção de frases, aquisição tardia de linguagem, dificuldade em aprender palavras novas e produção linguística empobrecida. O comprometimento da destreza fina e dificuldade em reter/repetir séries sequenciais ouvidas ou elementos visuais. Estas capacidades são alicerces para aquisição da leitura/escrita e revelam a maturidade do cérebro para o fazer, podendo o despiste destes sinais ser feito logo no pré-escolar no sentido de minimizar o seu impacto.

Qual o tratamento?

Tal como a PHDA, a dislexia poderá permanecer ao logo da vida, embora com um atenuar dos sintomas. Contudo, a deteção precoce e respetiva intervenção adequada, poderá reduzir significativamente o impacto funcional ao ponto de, em situações mais subtis, o tornar impercetível. Contudo, é necessária uma intervenção multidisciplinar, envolvendo escola, família, psicólogos e até mesmo outros técnicos como terapeutas da fala. O professor tem aqui um papel fundamental no sentido de motivar o aluno, ajustando conteúdos e avaliações, mas sobretudo, na deteção do problema e reencaminhamento para outros profissionais. O terapeuta da fala e/ou o psicólogo são essenciais na estimulação das funções neurocognitivas afetadas através da prática e repetição de exercícios adequados. O acompanhamento psicoterapêutico poderá auxiliar na parte emocional sendo que, muitas vezes, estas crianças podem sofrer depressão e impacto significativo na autoestima, devido ao dobrado esforço que necessitam de fazer para atingir os mesmos resultados dos colegas e respetiva comparação.

Sandra Henriques
Psicóloga Clínica

Fontes
APA. (2014). DSM – 5. Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 5a Edição. Lisboa: Climepsi Editores.
Vale, A. P., Sucena, A., & Viana, F. (2011). Prevalência da dislexia entre crianças do 1.º ciclo do ensino básico falantes do Português Europeu. Revista Lusófona de Educação, 18, 45‐56.
Lyon, G. R., Shaywitz, S., & Shaywitz, B. (2003). Defining dyslexia, comorbidity, teachers’ knowledge of language and reading. Annals of Dyslexia, 53(1), 1‐14. doi: 10.1007/s11881‐003‐0001‐9
Imagem: Holger Selover-Stephan/Free Images

By | 2021-06-15T17:20:55+00:00 Junho 15th, 2021|Notícias|0 Comments

About the Author:

Leave A Comment